quarta-feira, dezembro 20, 2006

Kim ensaia remontagem d'"O Lago"

Há muitos anos que não tinha notícias da Kim. O DN noticia a remontagem do "Lago" e aqui tive a oportunidade de saber notícias da distinta americana, que um dia exigiu à Renault que lhe desse um R5 cor de rosa igualzinho ao do anúncio da TV. Coisa que a marca teve de se desunhar porque um carro daquela cor, só mesmo na publicidade!
Já há 20 anos, o Armando Jorge começava a vestir a bailarina Kim da cabeça aos pés - o que a linda Kim (confidenciou-me no keep feet) entendia já como o aproximar do fim de carreira nos papeis de destaque (com pontas). Foi a Kim que mostrou ao povo o bailado classico num maravilhoso pas-de-deux em 1972 com Jorge Trincheiras, no Teatro Maria Matos, para o programa"Domingo à Noite", em directo.
notícia DN:
Companhia Nacional de Bailado volta a 'O Lago dos Cisnes' vinte anos depois

Maria João Caetano De Rainha vestida, saia comprida e sapatos de salto, Kimberley Ribeiro é a única bailarina de O Lago dos Cisnes a quem não é pedido para se colocar em pontas. Kim, como é chamada nos corredores do teatro, está na Companhia Nacional de Bailado (CNB) "desde o primeiro dia", ou seja, há 30 anos.
Em 1986, quando Armando Jorge dirigiu O Lago dos Cisnes, Kim fez parte do corpo de baile e interpretava diversos papéis, entre os quais o de Rainha. Afastada dos palcos pela idade, actualmente Kim é ensaiadora da companhia mas não recusa fazer este tipo de participações especiais. "Queria muito participar porque estamos a festejar os 30 anos da companhia", diz. "Gosto muito de estar no palco, tenho muito prazer, não poderia desperdiçar esta oportunidade." Desfila de leque na mão, postura perfeita. E aplaude os solos dos bailarinos principais - os papéis de Odette e do príncipe Siegfried.
"É um dos bailados mais difíceis a nível de estilo, são necessárias muitas horas de ensaio", desabafa esta veterana. "Mas vale a pena."
O sonho das meninas
Clássico entre os clássicos, O Lago dos Cisnes (coreografia original de Petipa e Ivanov com música de Tchaikovsky, de 1875) tem resistido ao tempo e às múltiplas versões de que foi alvo e continua, ainda hoje, a ser o sonho de muitas bailarinas. "Vi várias produções do Lago mas nunca imaginei que alguma vez eu pudesse fazer a Odette", conta Filipa Castro, 28 anos, uma das bailarinas que interpretam a protagonista. "É um bailado tão etéreo, puro e delicado. Tive que trabalhar essa fragilidade que, em mim, não é natural."
Ao lado de Filipa, como Siegfried, está o croata Tomislav Petranovic, de 30 anos. "Para os rapazes é diferente, não é uma personagem com que se sonhe desde pequeno, mas sim, é um ponto alto na carreira", explica. Quer Filipa quer Tomislav já tinham feito O Lagos dos Cisnes com outras companhias, no estrangeiro, mas reconhecem que a versão de Lisboa, por ser mais curta, é das mais difíceis: "Como foram cortadas muitas cenas, é muito mais cansativo para os principais, sobretudo para as raparigas que têm de estar em pontas", diz Tomislav.
Mehmet Balkan, o director artístico da CNB e responsável pela direcção do bailado, admite que os cortes foram feitos a pensar acima de tudo no público: "Hoje as pessoas já não têm tempo nem paciência para ficar quatro horas a ver um bailado." Mas considera que a versão em nada empobrece o bailado pois "algumas das cenas eram excessivamente longas".
O segredo dos clássicos
São estas adaptações que permitem que um clássico se reinvente a cada produção e escape ao envelhecimento, considera Luísa Taveira, programadora de dança do Centro Cultural de Belém e ex-bailarina da CNB que, há 20 anos, interpretou Odette. "São estas actualizações que garantem a sua sobrevivência. É uma herança cultural que é rejuvenescida a cada produção", diz, acrescentando: "Para um bailarino significa muitos anos de trabalho, muitos ensaios, preparação como a de um atleta de alta competição."
"Na história da dança há uma tendência para queimar continuamente e fazer de novo mas há um grupo muito pequeno de bailados que se mantêm, que são os clássicos, que foram seleccionados pelo tempo, pelo público e pelos coreógrafos devido à sua qualidade, quer coreográfica quer musical", acrescenta José Sasportes, historiador da dança.
Faz sentido continuar a fazer os clássicos? "Isso é como perguntar se faz sentido continuar a ouvir a quinta sinfonia de Beethoven", responde Sasportes. Mehmet Balkan reconhece em bailados como este (ou Giselle ou O Quebra-Nozes) uma tradição que é importante que o público conheça e que os bailarinos dancem, pelo menos uma vez por ano. São como os alicerces de todas as construções, mesmo as mais modernas, diz. Nas palavras de Tosmislav: "Não é por gostarmos de Pollock que vamos deixar de gostar de Rubens."
Se faz sentido continuar a dançar O Lago dos Cisnes? Perguntem ao público, desafia Mehmet. As lotações estão praticamente esgotadas.

0 Comments: