sábado, novembro 24, 2007

«Pedro e Inês» em Moscovo

Bailado «Pedro e Inês» recebido com reticências em Moscovo
O bailado «Pedro e Inês», apresentado pela Companhia Nacional de Bailado na capital russa, no âmbito do Festival Dance Inversion, foi recebido com reticências pelos críticos de arte russos.
«Só um louco ou um português pode levar ao palco a história verdadeira dos principais amantes portugueses», escreve Tatiana Kuznetsova, crítica de dança do diário Kommersant.
Segundo Tatiana Kuznetsova, no espectáculo encenado por Olga Roriz «o elo mais fraco é a longa dança inicial, O Sono de Inês, rico em movimentos estáticos».
«Sete baitalinas (sete imagens da beldade castelhana) vivem, em sete monólogos, uma visão profética: a própria morte. As artistas, bem ensinadas, desempenham os seus solos com uma expressão fanática, mas a sua verbosidade patética parece demasiadamente longa e exageradamente melodramática«, qualifica a crítica.
«O rei Afonso - prossegue - acrescenta dissonância: durante todo esse tempo, o monarca, em convulsões no trono e fazendo caretas terríveis à própria coroa, desempenha o papel de mau no estilo do antigo teatro de pantomina».
A crítica considera, porém, que «o espectáculo é salvo precisamente pelas cenas mais arriscadas», e realça momentos como o «adágio de amor de Pedro e Inês» e «a exumação encantadoramente bela do cadáver (de Inês)».
«No entanto - insiste - está longe de ser perfeita. A longa procissão do rei com o cadáver de Inês e a cena igualmente longa da coroação da morta são muito estragadas pelo trono idiota... parecido com uma cadeira de estomatologia ou ginecologia«.
Numa nota final, ressalva que »todas as falhas deste bailado incorrecto são compensadas pela simplicidade e sinceridade dos sentimentos de que são capazes só os habitantes da Península Ibérica, periferia europeia da dança moderna que ainda não foi atingida pelo reflexo auto-destruidor dos vizinhos setentrionais mais apurados«.
Anna Gordeeva, crítica do diário Vremia Novostei, é menos clemente com o bailado encenado por Olga Roriz.
Segunda ela, várias vezes a música parece não coincidir com a dança no palco.
«A música aqui (uma mistura de sete autores...) estremece monotonamente, não coincidindo de forma alguma com a expressão dolorosa do pesadelo nocturno», escreve a crítica, referindo-se a «O Sono de Inês».
«A cena impressiona novamente, mas uma vez mais não coincide de tal forma com a música que parece que puseram a tocar outro fonograma por engano», acrescenta, a propósito da cena do assassinato de Inês.
«No fim de contas, a nossa versão sobre os sofrimentos do monarca por uma pessoa perfidamente assassinada também não pode ser considerada feliz: Ivan, o Terrível poderá ser ainda mais tenebroso», conclui Anna Gordeeva, comparando o drama português ao assassinato do filho do czar Ivan, o Terrível, pelo próprio pai.
«Talvez valesse mais se o bailado de Portugal trouxesse obras de coreógrafos cujos nomes provocam inveja aos amantes de teatro de Moscovo», escreve ainda o diário «Vedomosti».
Diário Digital / Lusa
19-11-2007 13:28:00

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